Será que o “dilema do prisioneiro” proposto no campo da Teoria dos Jogos é uma boa metáfora para descrever as possibilidades que se colocam atualmente para a FDRP? Claro que esse texto não tem a pretensão de responder essa pergunta. Mesmo assim, de maneira quase provocativa, a idéia que será defendida aqui tenta evidenciar alguns traços em comum entre essas duas narrativas. Antes de apresentar os argumentos para essa proposta, porém, acho que seria útil dizer brevemente no que consiste essa narrativa representativa de muitas situações vividas no nosso cotidiano.
O dilema do prisioneiro é aquele vivido por dois supostos suspeitos de um crime que são presos pela polícia. Como forma de esclarecer o crime identificando corretamente os culpados e suas respectivas participações, a polícia adota a seguinte estratégia: Coloca-os em celas separadas e sem comunicação, propondo aos suspeitos as seguintes condições:
1) Se um dos prisioneiros confessar o crime e acusar o seu comparsa, e o outro permanecer em silêncio se negando a confessar sua participação, o que confessa ganha a liberdade e o que permanece em silêncio pega uma condenação de 10 anos de reclusão.
2) Se nenhum dos dois suspeitos confessar, permanecendo em silêncio, cada um dos dois presos pegará uma pena de somente seis meses.
3) Se os dois confessarem e se acusarem mutuamente, cada um leva uma pena de 5 anos de reclusão.
Observe que, no problema proposto, se cada um dos presos agirem egoisticamente, sem confiar no outro, tentando pegar a menor pena possível, o resultado é que cada um vai acusar o outro, e ambos acabarão levando a pena de 5 anos. Esse é o resultado que empiricamente se verifica mais freqüentemente nos experimentos realizados em diversos campos da economia, biologia, psicologia, etc.
Se, porém, os dois suspeitos confiarem um no outro e se negarem a confessar o crime e, ao mesmo tempo, se negarem a acusar o outro, ambos pegarão uma condenação muito menor, no caso de seis meses.
Diz-se que, nesse tipo de interação, o “equilíbrio de Nash” (aquele obtido quando cada um age buscando egoisticamente seus próprios interesses) não coincide com o “equilíbrio de Pareto” (aquele no qual ocorre a melhor situação possível para os participantes dentro dos parâmetros do jogo). Nisso consiste o dilema.
Vamos agora “forçar a barra” e tentar encaixar os padrões dessa metáfora numa suposta realidade vivida pela nossa faculdade, propositadamente criada para os fins desse texto. Vamos considerar que os participantes desse jogo são, de um lado, os alunos, que, supostamente agindo egoisticamente, buscariam reduzir ao máximo o esforço necessário para atingir o seu objetivo de se formar e se livrar das obrigações impostas pelas normas da escola. De outro, os professores, que, agindo egoisticamente, só estariam interessados em se promover diante dos outros professores e diante dos seus pares em suas atividades fora da faculdade. Se ambos os jogadores,“alunos” e “professores”, agirem egoisticamente, a situação resultante será uma faculdade na qual as aulas não são levadas a sério, na qual os professores pouco aparecem na faculdade, na qual os alunos não freqüentam as aulas e na qual as formas de avaliação são meramente formais, já que todos os alunos alcançam altas notas. No longo prazo, seria o que consideraríamos uma faculdade medíocre e com baixa reputação.
Uma alternativa vislumbrada pela metáfora do dilema dos prisioneiros, porém, abriria uma alternativa mais desejável tanto para “os alunos”, quanto para “os professores”. Seria uma situação na qual ambos os jogadores resolveriam cooperar mutuamente, mesmo que isso implicasse num esforço no presente, de forma a, no futuro, reduzir os esforços de todos. Essa situação seria caracterizada pelo compromisso dos professores em verdadeiramente se dedicar para a formação dos alunos, impondo um padrão exigente em matéria de aprendizado do conteúdo da disciplina e em matéria de comportamento em sala de aula, correspondido pelo compromisso dos alunos de assistir a todas as aulas, estudar e participar ativamente das atividades acadêmicas. O esforço de curto prazo seria recompensado no longo prazo, uma vez que uma faculdade com essas características teria maior sucesso na inserção dos seus alunos no mercado de trabalho, nos concursos, etc. Além disso, os seus professores teriam alta reputação entre os seus pares, seja no meio acadêmico, seja na sociedade de uma forma geral.
Pelos ditames da Teoria dos Jogos, esse equilíbrio desejável (de Pareto) não coincide com o equilíbrio mais freqüentemente verificado na prática (de Nash), já que as pessoas tendem a agir egoisticamente mesmo que não o admitam e, no discurso, defendam o contrário.
Para qual das duas situações caricaturais descritas na nossa narrativa estamos caminhando? Quais comportamentos por parte dos alunos e professores representam impulsos para essas alternativas? Quais propostas poderiam ser defendidas de forma a garantir que todos se beneficiassem o máximo possível? Aí estão boas perguntas que se colocam para serem respondidas pelos que participam na composição da narrativa real, não caricaturizada, da história da nossa faculdade.
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